Mitika K. Hagiwara, MV, Dr, Prof. Senior
FMVZ-USP
Os filhotes dos cães e gatos ao nascer são submetidos a um grande desafio, quando passam de um ambiente estéril e protegido das infecções representado pelo útero materno, para o ambiente externo, rico em micro-organismos. Para se protegerem desse desafio, são providos de mecanismos de defesa imunológica inata, representados pelos componentes do Complemento, de lectinas (pentraxinas e colectinas), peptídeos (defensinas, lactoferrinas e lisozimas) e proteínas surfactantes A e D, na superfície pulmonar. Há o predomínio da resposta Th2 em relação a Th1.
Os neonatos dependem essencialmente da imunidade materna transferida pela mãe através da placenta e do colostro. As cadelas e as gatas possuem a placenta do tipo endoteliocorial, que impede a transferência maciça de imunoglobulinas maternas ao feto. No cão, a transferência “in útero” é de cerca de 2 a 18% de imunoglobulinas (IgG), que provê proteção temporária e de curtíssima duração aos neonatos. Porém, é o suficiente para criar resistência a imunização ativa por um curto período de tempo. Entre os felinos, praticamente não ocorre a transferência transplacentária de IgG. A concentração sérica de IgG nos neonatos que não recebem colostro é praticamente nula. A ingestão de colostro é fundamental para a transferência da imunidade materna aos filhotes.
A absorção de anticorpos se processa no duodeno e jejuno, facilitada pela presença de receptores na membrana das células epiteliais, e ocorre nas primeiras 24 horas após o nascimento. O colostro contém proteínas, imunoglobulinas G (65 a 90%), A, M e E, além de linfócitos, dos quais 60 a 80% são linfócitos T. As imunoglobulinas A secretadas (IgA-S) são fundamentais na proteção da mucosa pulmonar e intestinal. Durante toda a lactação são secretadas no leite materno, embora em mínimas concentrações, propiciando proteção contra as infecções intestinais. Filhotes de cães e principalmente, de gatos, não se beneficiam da imunidade lactogênica quando recebem aleitamento artificial e são mais predispostos a infecções intestinais.
De um modo geral, nos cães e nos gatos, as concentrações séricas de IgG oriundas da mãe declinam a limites indetectáveis entre 6 a 16 semanas da idade, período em que os filhotes poderão ser imunizados contra as infecções virais mais agressivas como a cinomose, hepatite infecciosa e parvovirose nos cães e panleucopenia, rinotraqueíte infecciosa e calicivirose nos felinos.
Na impossibilidade prática de se conhecer o momento em que determinado animal estará apto a responder a imunização, o programa de vacinação prevê a aplicação de três doses de vacinas, iniciando-se com 6 a 8 semanas de idade e concluindo a primoimunização ao redor de 16 semanas de idade. Os protocolos vacinais devem ser suficientemente flexíveis para possibilitara adaptação as diferentes situações e necessidades de um indivíduo ou de um grupo de cães ou gatos.
Referências bibliográficas
Petersen M; Kutzeler ME. Small Animal pediatrics. Elsevier, 2011.
Greene, CE. Infectious diseases of the dog and cat. 4th ed. Elsevier Saunders, St Louis. 2012.
ótimo texto, sugiro caso tenham interesse em aprofundar mais o tema, é necessário uma discussão mais minuciosa sobre a real necessidade de vacinação anual em cães e gatos. Quais são as consequências de uma exposição constante de antígenos no organismo do animal a longo prazo.
ResponderExcluirE uma pergunta de onde veio o protocolo de vacinação que utilizamos no Brasil? porque vacinar um animal contra coronavirose até o fim de sua vida? e porque não estipular-mos um calendário de vacinação individual, já que um animal não é exposto aos mesmos risco que outros.
Rogério Lobo - CRMV-RJ 6661
Olá Rogério, concordo com você. Já existem relatos sobre aumento de problemas auto-imunes induzidos pela supervacinação dos animais. Eu também possuo essa visão crítica. Locais que sofrem enchentes precisam ter os seus animais vacinados com a vacina exclusiva para leptospirose. Não indico a vacina contra leishmaniose para todos os pacientes e indico somente a vacinação antirábica para alguns gatos.
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