sexta-feira, 23 de setembro de 2011

HIPERTERMIA LOCAL EM UM FELINO COM ESPOROTRICOSE CUTÂNEA: RELATO DE CASO.

Alguns parágrafos estão com frases cortadas, conserto mas na hora de publicar o texto, volta ao que era!! Bem, informação totalmente novidade para mim, não tinha ouvido ou lido sobre isso. Boa leitura!

A esporotricose é uma micose subcutânea causada pelo fungo dimórfico Sporothrix schencki. Nos felinos
domésticos, essa doença se caracteriza pela presença de lesões cutâneas ulceradas e nodulares, localizadas
principalmente nas extremidades, podendo apresentar caráter disseminado.

O tratamento da esporotricose felina é difícil e muitas vezes representa um desafio aos médicos veterinários, uma vez que a maioria das drogas antifúngicas utilizadas apresentam toxicidade hepática, além de um número limitado de agentes antifúngicos disponíveis no arsenal terapêutico. Os azólicos cetoconazol e itraconazol vêm sendo utilizados no tratamento da esporotricose felina ; o itraconazol é considerado atualmente o fármaco de escolha.

Em um estudo terapêutico sobre a esporotricose, em 266 gatos doentes, a cura clínica foi obtida em sessenta e oito pacientes (25,4%) e a duração do tratamento variou de 16 a 80 semanas (mediana = 36 semanas), sendo que os efeitos adversos mais comumente observados foram anorexia, vômito e diarréia.

 Entretanto, o número de abandonos e mortes por diferentes causas somou 69,7 %, explicitando o alto índice de não adesão ao tratamento, não permitindo a mensuração da eficácia de cada esquema utilizado.

Em humanos, a hipertermia local vem sendo utilizada como tratamento alternativo efetivo em alguns pacientes com lesões cutâneas ou linfocutâneas. Embora os mecanismos pelos quais o calor cause a regressão das lesões cutâneas de esporotricose sejam desconhecidos, estudos demonstraram que o desenvolvimento de todas as formas do S. schenckii decrescem quando aquecidas a temperaturas iguais ou superiores a 40°C.

Este estudo teve como objetivo relatar a cura clínica de um felino doméstico com esporotricose cutânea localizada, submetido somente ao tratamento de hipertermia local.

MATERIAL E MÉTODOS

Uma gata sem raça definida, pesando 3,0 kg, castrada,  sete meses de idade, foi atendida no ambulatório do Serviço de Zoonoses do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (IPEC) – FIOCRUZ, com suspeita de esporotricose.

Ao exame clínico foi constatada a presença de uma única lesão cutânea ulcerada, com bordos definidos, acometendo a região torácica lateral esquerda. Foi procedida a coleta de secreção da lesão para exame citopatológico e cultura micológica. As lâminas obtidas por impressão da lesão para exame citopatológico foram coradas pelo Giemsa. A cultura fúngica foi realizada através da semeadura do material coletado por meio de swab, em meio de ágar dextrose Sabouraud e ágar Mycobiotic (DIFCO), sendo o dimorfismo verificado pela conversão leveduriforme em meio de infusão de cérebro e coração (BHI).

A esporotricose foi confirmada pelo isolamento do fungo em cultura e o exame citopatológico revelou presença de estruturas leveduriformes compatíveis com Sporothrix schenckii. O animal foi submetido ao tratamento de hipertermia utilizando bolsa térmica, com temperatura variando em torno de 42 a 43°C, no local da lesão, duas vezes ao dia durante vinte minutos, por um período de três semanas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após três semanas de aplicação local de calor com bolsa térmica, a lesão cutânea encontrava-se totalmente
cicatrizada. O animal continuou em tratamento por mais três semanas, recebendo alta em seguida. Oito meses após, o gato permanece clinicamente curado.

O tratamento da esporotricose felina é difícil, seja pela necessidade de um tratamento antifúngico regular e prolongado, pela dificuldade na administração de medicamentos por via oral ou pela falta de condições para manter os animais confinados durante o tratamento.

 No caso relatado, a termoterapia possibilitou a cura clínica do animal e a redução do tempo de tratamento, mostrando ser um método não oneroso, prático e conveniente quando comparado ao tratamento sistêmico, facilitando a adesão do proprietário à terapêutica.

Através do resultado obtido foi possível concluir que, em felinos domésticos a hipertermia local pode ser uma opção terapêutica para pacientes cooperativos que apresentem esporotricose cutânea localizada.

As fotos não são do artigo, somente para ilustrar como são as lesões e a citologia. 




REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. RIPPON, J. Sporotrichosis. In: RIPPON, J. Medical Mycology - The pathogenic fungi and the pathogenic
actinomycetes. Philadelphia: W. B. Saunders Company, 1988, p. 325-352.

2. BARROS, M.B. et al. Clin Infect Dis, 38(4): 529-535, 2004.

3. SCHUBACH, T.M.P. Estudo clínico, laboratorial e epidemiológico da esporotricose felina na região
metropolitana do Rio de Janeiro. Instituto Oswaldo Cruz, 68p. (Tese de Doutorado), 2004.

4. WELSH, R.D. J Am Vet Med Assoc, 223(8): 1123-1126, 2003.

5. DUNSTAN R.W.; REIMANN K.A.; LANGHAM R.F. J Am Vet Med Assoc, 189(8): 880-883, 1986.

6. SYKES J.E. et al. J Am Vet Med Assoc, 218(9): 1440-1443, 2001.

7. KAUFFMAN, C. A. Clin Infect Dis, 21(4):981-985, 1995.

8. HIRUMA, M. et al. Mykosen, 30(7): 315-321, 1987.

9. HARUNA, K. et al. J Dermatol, 33(5): 364-367, 2006.

10. HIRUMA, M.; KAGAWA, S. Mycopathologia, 84(1): 21-30, 1983.

11. HIRUMA, M.; KAGAWA, S. Mycopathologia, 95(2): 93-100, 1986.

CARLA DE OLIVEIRA HONSE1; MAÍRA CRUZ DE HOLANDA CAVALCANTI2; VANESSA DUTRA MACHADO3; ALINE SILVA DE MATTOS4; SANDRO ANTÔNIO PEREIRA2; ISABELLA DIB FERREIRA GREMIÃO2

1Mestranda do curso de pós-graduação em Pesquisa Clínica em Doenças Infecciosas – IPEC/FIOCRUZ (Bolsista FIOTEC) – Av. Brasil, 4365 –
Manguinhos, Rio de Janeiro – RJ – CEP: 21040-900 – Email: honse@ipec.fiocruz.br

2Médico (a) Veterinário (a) – Serviço de Zoonoses – IPEC/FIOCRUZ

3Bolsista PIBIC – FIOCRUZ/CNPq

4Graduanda em Medicina Veterinária – Universidade Federal Fluminsense – UFF

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